sábado, 11 de junho de 2011

Entrevista com uma professora universitária

1. Como você percebe o atendimento que está sendo dado às crianças que frequentam escolas de Educação Infantil?
Acho que o atendimento está muito heterogêneo. Tem escolas que são muito disciplinadoras, reduzindo os espaços de expressão espontânea da criança, querendo que elas aprendam coisas de adulto. Então, tratam a criança como mini adulto e até robotizando. E temos em outro ponto, escolas que estão dando bastante liberdade e até um excesso de liberdade. Onde há, por exemplo... se a criança não quer fazer alguma coisa... "- Ai, a criança não quer, não pode contrariar a criança." Estão deixando até muito solto. A criança em nome de uma liberdade no aprender. Eu vejo que a Educação Infantil hoje se apresenta na sociedade de forma, ainda, muito heterogênea.
2. O que você acha que deve ser priorizado nas práticas dos pedagogos que trabalham com turmas de Educação Infantil?
Priorizado o corpo, as vivências corporais, o movimento. Muito movimento, muito corpo. Esse precisa ser vivido, sentido, respeitado, conhecido. Porque toda a estruturação do conhecimento e a própria abstração que virá depois, ela vem a partir do vivido concretamente. Penso que através do corpo se trabalha limite, raciocínio, pensamento, companheirismo, solidariedade. Tudo isso que devia ser priorizado, sempre pelo corpo.
3. O que você entende por infância?
É uma criação cultural e que num dado momento da história se batizou que seria infância. Na nossa cultura atual, infância seria um tempo de amadurecimento, preparação e despertar do potencial humano. Onde se a gente prestar atenção na criança, a gente vê todo o potencial humano. Seria um período da vida de intensas e enormes quantidades de aprendizagem.
4. Que diferenças você percebe que há entre a sua infância e a de hoje?
Eu tinha muita liberdade, liberdade de espaço. Eu tinha espaço de rua, eu tinha vivências, eu tinha limites. Hoje eu vejo as crianças com muito pouco espaço físico. Algumas bastante confinadas, excessivamente higienizadas, inclusive, com poucos anticorpos. Eu esfolava meu joelho e a minha mãe dizia: "- Daqui uma semana passa." Hoje a criança esfola o joelho, parece que aconteceu o caos. Eu caía, a minha mãe dizia: "- Levanta!" Hoje a criança cai tem dez ou onze para levantar a criança. Eu acho que a infância de hoje está um pouco higienizada demais. "- Não se suja! Não bota na boca! Não faz isso! Não faz aquilo!" E com pouco espaço físico na sociedade. Muito estímulo. Eu não tinha tanto estímulo visual, auditivo. Então, a criança hoje está super estimulada e com uma tecnologia. Eu acho que aprendi a enxergar um pouco mais a sutileza da vida. A sutileza de uma flor, a observar a natureza. Eu acho que essa seria a grande diferença.
5. Você considera importante as crianças frequentarem escolas de Educação Infantil?
Com profissionais bem capacitados, eu acho que é maravilhoso, imprescindível para os tempos modernos.
6. Quais os desafios impostos ao profissinal que trabalha na Educação Infantil?
Acho que o primeiro desafio é entender essa criança super estimulada, por um lado. De alguma forma superprotegida. E essa superproteção, muitas vezes, pela ignorância dos pais, numa determinada classe social, então isso fica visível. E dentro daquela heterogeneidade. Nós temos ainda algumas crianças um pouco jogadas. Então, acho que o profissional que for trabalhar com Educação Infantil, teria que ler a criança e o seu entorno. E independente do entorno, da classe social que ela está, potencializar tudo aquilo que ela tem de humano. Que é ajudar no desenvolvimento da amorosidade, no autoconhecimento, no respeito ao outro. Mas eu acho que ele tem que estar preparado para lidar com realidades diferentes. As crianças não são iguais, são individualidades. E a criança que está nascendo hoje, sei lá como ela vai ser. Ela está tendo um grau de evolução de espécie muito grande, principalmente em termos cognitivos.
7. Você acha que esses profissionais são valorizados?
Acho que eles são pouco valorizados ainda. Acho que eles deveriam ser muito, muito, muito valorizados. E muito cobrados na sua competência técnica. Eu vejo que uma criança que não é bem atendida nos seus anos iniciais pode carregar um problema na vida dela e apresentar problema social por 20, 30 anos. E a criança bem atendida tende a se construir de uma forma, assim, benéfica até para a sociedade. Então, se vê com muita clareza um erro médico. Um erro em Educação colhe-se 15, 20 anos depois. O erro médico a gente vê na hora. E eu não sei o que seria mais importante se me perguntasse: "- O médico ou um educador da Educação Infantil?" Eu acredito que ambos são imprescindíveis e de igual importância. Ambos cuidam da vida.

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